sábado, 21 de fevereiro de 2009

O mago Sidelar


... E o mago Sidelar - demiurgo de si mesmo - que a tudo observa de sua bola de cristal (arquiteto do castelo e seu primeiro ocupante), que a tudo conhece e reconhece, sejam os caminhos e passagens secretas entre o céu e a terra, vive em seu reduto secreto, jogando seus dados em seu tabuleiro mágico. Ali, as pessoas parecem personagens e as personagens tornam-se pessoas. Só o mago sabe distinguir uns dos outros, pois conhece e reconhece todas as entrelinhas do tempo e do espaço.

No buraco da minhoca , Sidelar atravessa os confins do mundo e do tempo. Aquele mundo para ele é um jardim secreto, em que o castelo de Messiter é a jóia rara da coroa, uma pérola dentro de uma concha misteriosa. E ali dentro do castelo há que se buscar pela verdadeira rosa. A rosa tatuada em uma de suas prisioneiras. Entre a torre e a masmorra, a rosa jaz prostrada. E o "claro enigma" é feito de prosa & verso. Caberá ao cavaleiro da espada em cruz ou ao poeta quase profeta decifrá-lo antes que seja tarde demais... A ampulheta dos dias foi virada mais uma vez, e os dados foram jogados no tabuleiro em forma de mini mundo...

Sidelar faz a pena em sua mão voar ao escrever as palavras ditadas pelo vento constante em torno do castelo. Um vento que sussura uma canção em forma de oração, de um menestrel chamado Ritov Milar, que vez em quando assombra o castelo de Messiter com sua flauta encantada, sem que os soldados - com ordem expressa do rei para sua prisão - saibam de onde vem e para onde vai... E a canção ecoa:

Se um dia qualquer
Tudo pulsar num imenso vazio
Coisas saindo do nada
Indo pro nada
Se mais nada existir
Mesmo o que sempre chamamos real
E isso pra ti for tão claro
Que nem percebas
Se um dia qualquer
Ter lucidez for o mesmo que andar
E não notares que andas
O tempo inteiro
É sinal que valeu!

A rainha Tristeza, presa em seu quarto de cristal tem a impressão de que a música encantada, que quase lhe faz levitar e sentir de novo pulsar o frágil coração, sempre vem do bosque sem fim, como que brotasse do meio das árvores. Como se o espírito de um deus estivesse a lhe acompanhar os passos em círculos dentro daquele quarto crespuscular...

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