sábado, 21 de fevereiro de 2009

As torres de areia


Próximo ao castelo de Messiter havia uma praia maldita, por conta de seus inúmeros naufrágios. Pela costa se percebia restos de barcos que não sobreviveram às borrascas e bancos de areia. Por ali, o fim do mundo era apenas a ante-sala do inferno.
Em um dia ventoso como outro qualquer, um pescador solitário passeava pela praia deserta, procurando restos de embarcações piratas que o mar trazia à praia. Já achara certa vez uma moeda de ouro, um brinco de pérola e um estranho espelho que mostrava imagens distorcidas e sons guturais, que não deviam ser daquele mundo.
No meio do caminho ensolarado achou uma pequena bola de cristal com um diminuto boneco em forma de gente dentro, indo e vindo sem sair do lugar, aprisionado na água prateada em seu interior.
Uma mulher alta e bela, toda vestida de branco, vindo do nada, apareceu em sua direção, e ele custou a perceber, vidrado que estava naquela pequena bola de cristal.
Num breve instante o mar silenciou. O vento sumiu. O tempo parou. Tudo estava mudado. Um vácuo sobrenatural tomou conta daquela praia.
Lá adiante, o pescador finalmente percebeu a aproximação da mulher toda vestida de branco, bem alta, vindo em sua direção. Ele continuou indo e a mulher vindo, sem a distância se alterar. Quando ele quis voltar, tropeçou nas pernas. O vilarejo em que morava manteve-se distante. E bem diante de seus pés, um pequeno castelo de areia, réplica idêntica do castelo de Messiter, em escala bem menor, talvez 1:1000. E ali, dentro de uma das torres, uma pequena peça de xadrez. A rainha!
Uma tristeza sem motivo tomou conta de seu ser, enquanto a mulher de branco continuava tranqüilamente em seu encalço, caminhando sem sair do lugar. Ele, o aldeão que de vez em quando virava pescador, pensou ser algo sobrenatural, ou um pesadelo muito real, mas o eclipse do sol mudou sua opinião.
Ao olhar para o céu, descobriu algo como um olho escuro e gigante de um menino brincando com sua bola de cristal, correndo por uma praia deserta, feliz por ter encontrado aquele presente caído do céu, enquanto uma mulher de branco, caminhava em sua direção... Gelou de medo ao ver que próxima a ponta elevadiça do castelo de areia tinha um boneco muito parecido com seus trajes. E nos arredores daquela pequena construção de areia e sonho, outras figuras diminutas, entre luzes e sombras estavam plantadas.
Coincidentemente, no mesmo instante, um menino, pequeno ladrão de frutas, fugindo dos guardas do rei, caiu num poço profundo, atrás do castelo, e quando voltou a si, estava num subterrâneo labirinto. Depois de horas e horas - e naquele local o tempo custava muito a passar -, encontrou um túnel que levava a um portão. Estava entreaberto, e ali, mil e um apetrechos de alquimista numa câmara secreta. Sobre a mesa, uma pequena bola de cristal. E quando olhou em seu interior, teve uma visão abissal...

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